quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

LUNAÇÃO


NOVILÚNIO I

.negra é a noite com seu lume adormecido
vésper vela o sono
outras estrelas embriagam-se com luz
incrustadas no veludo velho do céu
negras são as vestes dos vampiros
farejando o sangue nosso de cada dia
lauto banquete líquido
da eterna aliança das trevas
negra é a asa do corvo de Poe
nevermore nevermore nevermore
palavras manchas indeléveis
madrugada eterna da alma
negro é o grito que parte de alguma parte
retalho de silêncio seda rasgado a mão
restos dispersos do grito ecoam
agudas notas duma canção sem dó
negro é o gato que cruza a estrada
esguia sombra assustada
fugidias luzes açoitam a senda
interrogando a calada da noite
negra é a magia das bruxas
encantatórias fórmulas secretas
o veneno do saber destilado
o sabor do veneno provado
negra é a noite com seu lume adormecido
vésper vela o sono
outras estrelas embriagam-se com luz
incrustadas no veludo do velho bordel

CRESCENTE

( signo
do andrógino punido
metade do mito platônico
meialua
mea culpa
errância na noite
acima dos pecados e das capitais
quase taça
punhal cigano
fino fio de corte preciso
lunar de São Sepé
rachadura no espelho
(de)talhe no rosto da noite
cicatriz de prata
inteira por ser lua
quarto por ser ciclo
e metade
talvez barca
flutua mansa nas águas celestes
sem barqueiro em seu comando
pe(s)cadora atrás de pérolas
crescente clara
zelosa amante
percorrendo a noite
com sua candeia acesa

PLENILÚNIO

o pequeno luzeiro
que a noite governa
em sua fas/ce plena
blue moon
bitter moon
shy moon
the dark side of the moon
cheia de si
reencontro das metades
abraço pleno de luz
órbita do orgasmo
corpo celeste
hermAfrodite
décima musa
mitos povoam as noites
lendas de lobisomens
medo do desconhecido
transformações
lua louca
feminina
fescenina
fascina

MINGUANTE

) desfeito abraço
continuação de viagem
a parte do todo que parte
cara metade clara
peregrina
por veredas tortas
avança
sem perto sem porto
caminha rota
adentrando-se na densa sombra de si mesma

NOVILÚNIO II

.negra é a noite com seu lume adormecido
vésper vela o sono
outras estrelas embriagam-se com luz
incrustadas no veludo velho do céu
negros são os nossos ancestrais
elo de sangue que nos une
meu povo é o teu povo que é nosso
história nascida antes de nós
negra é a hora da madrugada
onde os desejos apontam caminhos
o f(r)io invisível da noite
tece o abraço contido
negro é o azul do olhar
cimetière céleste dos mistérios
silêncio de tuas muitas vozes
esfinge pronta para devorar
negra é a sombra do teu corpo
projetada sobre o meu
oásis de paz suave pele
águas benvindas compartilhadas
negro é o orgasmo que traga
o corpo frágil com suas vagas
ondas escuras percorrem lentas
os carinhos que tua mão traçou
negra é a noite com seu lume adormecido
vésper vela o sono
outras estrelas embriagam-se com luz
incrustadas no veludo do velho bordel

Le vampire mauvais


"Quand, les deux yeux fermés, en un soir chaude d'automne,
je respire l'odeur de ton sein chaleureux..."
(Parfum exotique, Charles Baudelaire)



cendre noir
respirer l'odeur de sang vif
rechercher dans les mots
l'immor(t)alité
soucer l'infinitif du verbe
sans lumière
&
sans prière
accepter le mystère
après la petite mort
renaître des cendres du graphite
comme le phénix
maudit mauvais
semer parmi les fleurs du mal
les fleurs exotiques
de mauve

The Dark of Night

A noite se tece de silêncios

tramados em dobras de nuvens.

Sussuros se dissolvem

em alcovas de veludo negro.

Êxtases e agonias

testemunhados pela lua cheia.

Sangue e paixões se misturam

em taças de cristal partidas.

Beijos fatais, abraços mortais:

corpos sedentos de eternidade.

Sedução e perdições

na cintilância do olhar de punhal.